Sobre plágio e originalidade
No Brasil é mais importante dar os créditos do que falar algo bom.
Não é incomum que alguém comente algo do tipo nos meus vídeos: “fulano disse isso 6 meses atrás”, como se fulano tivesse sido o primeiro a dizer. Um dia desses respondi: “nem ele nem eu fomos os primeiros, essas coisas já são ditas tem uns 10 anos na internet”.
A coisa é tão autocentrada que as pessoas assumem que quando elas ouvem algo pela primeira vez, é a primeira vez que aquilo está sendo dito. E se ouvirem outro dizer aquilo sem citar o fulano que disse “primeiro”, então é cópia, plágio.
Acho que a falta de cultura do brasileiro médio gera essa falha de raciocínio; imagine eu ter que dar crédito a todos que contribuíram para algum pensamento meu; eu passaria o texto (ou vídeo) inteiro citando referências e seria insuportável me ouvir. Como as pessoas leem poucos livros e têm poucos autores como referências, parece óbvio que deva-se citar as fontes todas, mas isso é tolice.
O que é a originalidade senão uma reorganização de todas as referências que guardei na memória? Se pensamos a partir do que armazenamos somos sempre, de alguma forma, copiadores.
O que irrita não é a falta de referência ou eu reconhecer na sua fala algo que já ouvi antes; é a cópia ipsis litteris que mata. Quando eu leio no seu post as mesmas exatas palavras que li em outro; ou quando você dá uma aula que é integralmente a aula de outro fulano. Mas é impossível que eu não veja no que você fala um tanto de mais do mesmo do que já vi outros falando, afinal, algumas referências são amplamente conhecidas e vivemos num mesmo contexto cultural.
Tudo isso estou falando ainda sem levar em consideração o mar de conteúdos genéricos que vai chegar como uma grande tsunami nos próximos anos por conta da IA. Inclusive, é justamente para me diferenciar que adotei a regra de só postar textos “100% human made”. Isso aqui é original e certificado Elton Luiz (mesmo que seja pior que o robô).
Enfim, não seja um fiscal de direitos autorais; no fundo a maioria desses é de vaidosos, querendo de alguma forma aparecer e mostrar como estão inteirados de um assunto e são espertinhos por reconhecer algumas referências. Você não precisa ser o justiceiro digital que revela as fraudes; elas se revelam sozinhas com o tempo.
No fim das contas, prevalece a eterna verdade: a mentira tem perna curta.