O IA-centrismo: nosso novo deus é o ChatGPT
Um dia o mundo viveu no teocentrismo.
Em algum momento alguém decidiu que o homem valia mais que Deus — ou que Deus sequer existia — e começamos a viver o antropocentrismo.
Hoje, tudo indica que estamos rumando para o IA-centrismo: onde a inteligência artificial é o centro do universo, nosso novo deus que tem as respostas para todos os nossos problemas.
Se antes confiávamos na Providência Divina e depois passamos a confiar na nossa própria força — como um digno self made man —, agora não podemos fazer nada sem o aval do ChatGPT.
Já não bastava perder a confiança em Deus? Eu acho que a frustração foi tanta em tentarmos confiar em nós mesmos que começamos a ir atrás de alguma outra autoridade com mais sabedoria que fosse capaz de nos dizer o que fazer.
O que eu vi desde que comecei a viver mais no digital que no mundo real, lá em 2018, foi o seguinte:
Alguém descobriu que gravar vídeos e depois vender cursos poderia dar muito dinheiro.
Esse novo jeito de ganhar dinheiro começou a se espalhar.
Quem estava de fora, num emprego insuportável, tedioso ou cansativo, começou a olhar e pensar “caralho, isso é muito mais fácil que o que eu faço, aposto que eu também posso ficar rico vendendo curso”.
Pessoas que odeiam ensinar, escrever ou falar começaram a abandonar seus trabalhos rumo ao sonho de enriquecimento fácil do digital.
Essas pessoas começaram a descobrir que é bem mais difícil e chato do que parecia.
Até que alguém descobriu que dava para fingir que sabia das coisas pegando informações da IA e colocando nas redes sociais.
Todos os frustrados por não conseguirem ficar ricos como era prometido agora estão comprando a promessa de que dá para ficar rico vendendo conhecimento sem saber nada: é só mandar a IA montar um curso, seus posts, sua página de vendas, seus vídeos… A IA faz, você finge que foi você.
E aqui estamos: se antes 90% da internet era de gente fingindo que sabia alguma coisa, agora fingem com informações quentinhas do Claude.
Mas o pior não é isso.
Antes você percebia sua burrice e sua incapacidade de falar sobre um assunto; por causa disso alguns caíam na real e começavam a estudar até que acabaram por realmente ficar bons naquilo. Agora a coisa desandou: dane-se que você é burro e não sabe nada, é só ir lá e pedir para o ChatGPT ensinar no seu lugar. Aí você posta no seu perfil (onde tem sua foto) como se fosse você quem escreveu.
Pior do que ser burro é não saber que é burro, e esse é o mal do ignorante: quanto menos ele sabe, mais ele acha que já sabe tudo.
Muita coisa boa está acontecendo graças à inteligência artificial, isso é inegável; mas eu tenho certeza de que quanto mais real (e menos artificial) for o conteúdo de uma pessoa, mais forte vai ser a comunidade ao redor dela e, portanto, mais sustentável seu faturamento no longo prazo.
A revolução tecnológica vai trazer consigo uma contrarrevolução humana. Uma espécie de novo renascimento; mas se antes renascemos abandonando o Deus real, agora vamos renascer recuperando nossa humanidade real — que é o caminho para o renascimento em Deus, inclusive.
Veremos cada vez mais movimentos de abandono das telas, das redes sociais e dos celulares, enquanto muitos vão acordando para a vida real enquanto tentam nos sufocar com inteligência artificial.
AMDG
Elton
Cirúrgico em suas palavras.
Reflexão interessante!